Por: Agostinho Gayeta
O quadro actual do país, em termos de nutrição, segundo estudos recentes indicam que 36% das crianças angolanas sofrem de desnutrição severa.
Por estas razões especialistas sugerem a criação de um Plano Estratégico Nacional de fortificação dos alimentos.
A fortificação dos alimentos vai permitir reduzir o índice de anemia aguda e de vários outros problemas da saúde resultantes da má alimentação.
O UNICEF refere que a situação no país é crítica de tal modo que seja urgente que o Governo assegure a fortificação dos alimentos começando pela produção legislativa para o efeito e, pela definição de uma estratégia nacional abrangente. Frederico Brito, Chefe de Saúde e Nutrição do UNICEF em Angola afirmou que melhorar o processo de nutrição angolana visa assegurar que os alimentos consumidos pela população, tenha as proteínas e micronutrientes necessários para a saúde humana.
«A fortificação dos alimentos serve para assegurar que os alimentos que circulam a nível de todo território nacional tenham todos os componentes que os indivíduos precisam. Não é só a parte calórica e proteica, mas também a parte dos micronutrientes indispensáveis para as funções metabólicas do organismo. Por exemplo a questão do ferro, com a deficiência de ferro há prevalência de anemia e quando há anemia há problemas de desenvolvimento e também riscos de mortes muito elevado», referiu o especialista que se referiu também a micronutrientes como a vitamina A, o iodo e o zinco tomados em pequenas quantidades, mas que fazem “muita diferença a nível do potencial de desenvolvimento das crianças e da população em geral».
A nível da região da SADC – Comunidade dos Países da África Austral - Angola está atrasada na tomada de medidas e de decisões sobre a fortificação dos alimentos a partir das grandes indústrias produtoras. Em países como a África do Sul, Tanzânia, Zimbabwe, Namíbia, Lesotho a fortificação dos alimentos já é uma realidade, já que os seus governos já produziram toda legislação necessária para garantia da segurança alimentar que engloba de igual modo a sua fortificação.
Raymond Tchikomba, Ponto Focal da SADC para questões de Nutrição referiu em entrevista à Voz da América em Luanda que com a legislação que implementa a segurança, fortificação e estratégia alimentar, os 8 países conseguiram reduzir significativamente o nível de doenças como bócio, desnutrição aguda, anemia e outras que são consequências má nutrição.
Em Angola grande parte dos alimentos consumidos pela maioria da população é produzido por produtores de pequena escala e é vendido em mercados informais. Raymond Tchikomba assegura que o perigo dos alimentos não está o facto de serem vendidos nos mercados informais, já que o Governo pode, mesmo a nível destes mercados, implementar a fortificação alimentar, embora seja mais fácil trabalhar com os “playrs” de alta escala.
«A nível da produção, em Angola, há alguns playrs-chave que fazem a distribuição de alta escala de farinha de milho, açúcar, óleo vegetal etc. Trabalhando com estes playrs conseguimos garantir que pelo menos 80% da população está a receber os alimentos destes playrs que já está em colaboração», salientou.
Por sua vez, o Agroambientalista e Mestre em Desenvolvimento Rural, António Gomes, mostra-se séptico em relação a implementação de um programa de fortificação de alimentos nesta fase da vida social e económica de Angola, já que o país não possui laboratórios adequados para o efeito, por um lado, por outro, não tem leis para regular e regulamentar esta prática.
«Isto requereria, primeiro, termos muita coisa desenhada. Estabelecer um regulamento, uma lei sobre como fortificar os alimentos através de uma indústria. Nós sabemos que em termos de indústria ainda não estamos muito bem evoluídos para podermos pôr este tipo de pensamento em prática. Requereria também trabalharmos com as fontes para sabermos se esta fortificação não seria natural, convencional ou então seria por via da bio fortificação que a agricultura já começou a implementar».
Falando à margem do Workshop sobre “Fortificação Alimentar e Planeamento da Estratégia Nacional”, realizado pelo Ministério da Saúde, na semana finda, em Luanda, a Chefe de Nutrição do PAM - Programa Alimentar Mundial, Gracy Heijblom, referiu que as experiências relatadas por países que já implementaram o programa de fortificação alimentar, na análise custo-benefício, são bastante positivas.
A desnutrição e a fome em Angola têm causas multifactoriais. O país apresenta um alto índice de prevalência de desnutrição em crianças causado, em parte, pela pobreza, o que na visão da especialista em Nutrição, “provoca insegurança alimentar”.
«Em Angola o último estudo indica que 60% da população vive na pobreza e isto provoca insegurança alimentar porque as pessoas talvez tenham pouco acesso a uma dieta variada e nas quantidades necessárias para possam desenvolver todo seu potencial de saúde e genético. Mas, elas não são excludentes. Fortificar alimentos não significa que outras medidas para reduzir a pobreza e a desnutrição não devam ser tomadas. Todas as medidas são bem-vindas.», ressaltou.
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