Desde os primórdios da civilização humana, os povos africanos sempre foram regidos por valores que exaltam a fraternidade, a ética e o respeito mútuo.
Segundo o antropólogo Filipe Vidal, esses princípios, transmitidos de geração em geração, consolidaram uma forma de organização social que une espiritualidade, cultura e respeito à natureza.
No artigo intitulado "Educação com Identidade: Perspectiva de Poder Ilusória", o também pesquisador explora como os povos africanos estabeleceram sistemas éticos e fraternos, pautados em princípios cósmicos absolutos. Esses valores, materializados em ordens iniciáticas, destacam a harmonia com o mundo animal, vegetal, mineral e espiritual.
Contudo, o autor alerta para as consequências da apropriação e manipulação desses sistemas por outras civilizações, especialmente aquelas do hemisfério norte. “Os povos do Norte, ao adoptar essas formas de organização, muitas vezes o fizeram em detrimento dos seus próprios povos, motivados por interesses materialistas e práticas que destroem a essência espiritual desses princípios”.
Um dos pontos centrais do artigo é a análise crítica da política africana contemporânea. Segundo Vidal, muitos líderes africanos, treinados em sistemas alheios às suas tradições, priorizam o poder em detrimento do bem comum. Ele compara esses líderes a “leões” que, ao assumir o poder, eliminam seus antecessores e destroem as suas linhagens, simbolizando a quebra de uma transmissão ética e espiritual de liderança.
“Os jovens líderes africanos devem ser educados não para 'caçar por gostar de sangue', mas para respeitar a fauna, a flora e os princípios que sustentam a harmonia do continente”, defende o antropólogo. Para quem, a solução passa pela criação de escolas que promovam uma governança baseada na ética africana ancestral.
Filipe Vidal enfatiza que a África precisa resgatar os seus valores originários e investir numa educação com identidade, que valorize a sua história, cultura e espiritualidade. Apenas assim será possível formar líderes comprometidos com o bem-estar do povo e com a preservação do legado ancestral.
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